domingo, 15 de novembro de 2009

DIRETRIZES do PES, Partido do Eco-socialismo

A globalização mercantil como um planetário Coliseo romano
Em seu lado mais exuberante, de glamour de e para poucos, as elites econômicas, no mundo todo, vivem como uma farsante propaganda de cigarro, à custa de sanguessugar a energia vital da biodiversidade do planeta, porque têm queimado, transformando em fumaça e cinza, a riqueza, em rede, do conjunto das vidas do mundo, exibindo-as, as vidas, como troféu, no Coliseo romano-imperial, que é a globalização mercantil: fumaça de ilusões e falsificações no pulmão do mundo.

Claro está que esse tipo de civilização é, sob todos os pontos de vista, absurdo e injusto, além de inviável para aqueles mesmos que, por ora, estão sequestrando a multiplicidade sem fim das vidas do mundo, falseando-a, através de um jogo de disfarces, tal que, o que era biodiversidade, é transformado em diversidade de mercadorias, cujas cores desbotarão quando completarmos o único destino manisfesto, a que estamos realmente atrelados, na modernidade ocidental-planetária: o de acabar de vez com a vida na Terra.
A modernidade-mundo: um imenso matadouro
A modernidade ocidental-planetária é a civilização desse acúmulo de disfarces, em que o eu se pensa como superior aos demais seres, tendo-os, por conseqüência, como inimigos a serem batidos e abatidos.

Como um imenso matadouro, a modernidade funciona como se fosse uma pirâmide construída sobre um terreno frágil. Aqueles que estão no topo da pirâmide, cheios de privilégios, à custa do esforço, da humilhação e da extinção dos que se encontram em sua base, não sabem – ou não querem saber – que a inevitável destruição é igual para todos.

Mais cedo ou mais tarde toda pirâmide desmoronará, como um castelo de areia.

Não é suficiente, assim, a substituição do maquinista, que promete, em nome do progresso, acelerar mais ainda o trem da história moderna. Nada seria mais temerário. Também de nada adianta, dentro desse modelo genocida, diminuir ou mesmo acabar com as desigualdades sociais, no plano humano, destituindo as hierarquias que existem dentro do trem, pois é o trem mesmo que deve ser parado; é o modelo piramidal de sociedade que deve ser revisto, a favor de um modelo horizontal, de desarme total da espécie humana, desarme das armas de destruição massiva, mas também desarme das armas antropocêntricas, essa letal arma através da qual o humano se sobrepõe, como se superior fosse, a todos os outros seres do planeta; das armas afetivas, em nome das quais concentramos nossa infinita expressividade, de e para amar, nos parentes e nos iguais, constituindo o que poderíamos denominar de sociedade incestuosa, por não se permitir à mistura, por hierarquizar o amor, amando mais aos filhos, aos pais, aos amantes, tornando-nos indiferentes e impotentes para amar, com a mesma intensidade, ao desconhecido, ao estrangeiro, ao dessemelhante e ao estranho, aos quais, em primeira e última instância, não apenas evitamos,como ignoramos e odiamos, a fim de garantir a felicidade da sociedade da intimidade, que é a sociedade da mesma genética, da mesma língua, do mesmo ramo de saber, da mesma profissão, e assim por diante; das armas de gênero, as de diversos calibres de modelos de macho, inclusive com atualíssimas versões femininas; das armas étnicas, em que, não obstante o branco europeu continue sendo o modelo, outras etnias, com um indivíduo ou outro, podem igualmente, como um jogo de máscaras, ocupar a liderança, desde que seja para continuar colocando fogo na lenha da energia coletiva do mundo, dizimando-a; das, enfim, diversas formas de armas culturais, econômicas, epistemológicas.

A hora é agora

A hora é agora, de liberar-nos; de darmos um basta às oligarquias econômicas, midiáticas, étnicas, religiosas, sexuais e cognitivas, para inventarmo-nos, refazendo coletivamente nosso modo de viver, e conviver, reforçando a interdependência e a cooperação entre os viventes, de mortal para mortal, criando a rede sem fim de apoio ao presente e ao futuro da vida, na Terra.

Aqui chegamos à necessidade, porque se trata disso, de uma necessidade, de criar um partido como o Pés, Partido do Eco-Socialismo, cujo princípio fundamental é o da urgência urgentíssima de assumirmos, como civilização, o que sempre fôramos, mortais e vulneráveis, se vivemos isoladamente, em guerra com os demais seres; embora infinitamente criativos, se reforçarmos nossa dimensão coletiva, e comum.

Precisamos de uma civilização que proteja a vida e que, reconhecendo nossa mortalidade comum, sirva ao propósito de cultivar a delicada rede de interdependências e interações sociais, mentais e ambientais, as quais, em conjunto, constituem o cenário que garante a coexistência das vidas, na Terra.

Para tanto, o Partido do Eco-Socialismo orientar-se-á pelas seguintes premissas:

1.
Colaborar para fomentar uma cultura de e para a paz, propondo um desarme total da humanidade: um desarme bélico, afetivo, simbólico, epistemológico, cultural, e assim por diante;

2.
Todos os viventes deste planeta somos mortais e estamos no mesmo barco, razão pela qual ninguém é, sob ponto de vista algum, superior a nada e a ninguém;

3.
Reavaliarmos permanentemente toda a nossa formação antropocêntrica, através da reinvenção, igualmente permanente, de nossa relação com os outros seres do planeta. Para tanto, devemos partir da premissa de que não somos, sob hipótese alguma, senhores da terra, e de que nossa racionalidade é uma dentre outras;

4.
Colaborar para emegência história, no Brasil, na América Latina e no mundo, do protagonismo popular, como a base fundamental da verdadeira transformação social, ambiental e mental;
5.
Fazer parte, como constituído e constituinte, em rede, de um vigoroso movimento popular, consciente dos desafios e da consequente necessidade de lutar pela ampliação dos direitos dos povos e dos seres não humanos: direito à diversidade informativa, cognitiva, econômica, social, ambiental e mental;
6.
Para alcançarmos um verdadeiro protagonismo popular, temos que fazê-lo em âmbito local, nacional, continental e planetário. Somente a ação em rede, e visinária, pode destronar as oligarquias - de todo tipo, afinal- que promovem uma guerra incessante contra a biodiversidade, do e no planeta, a biodiversidade ambiental, social e mental;
7.
Propor a constituição de uma pluri-racionalidade, procurando estudar e incorporar, como humanos, as mais diversas racionalidades não humanas, principalmente aquelas que possam reforçar a nossa dimensão comum, de viventes de um mesmo planeta;

8.
Se vivemos no mesmo planeta e somos igualmente mortais, é porque somos igualmente inter-dependentes, razão pela qual a inter-dependência doravante deve ser o eixo de todas as nossas escolhas e realizações;

9.
Como conseqüência da premissa anterior, nossa referência deve ser a necessidade de constituirmos uma subjetividade humana – ecologia mental – que não entre em confronto nem com a sociedade, da qual faz parte, nem com o meio ambiente, do qual igualmente faz parte.

10.
As nossas três dimensões ecológicas, a ambiental, a social e a mental, devem co-existir num horizonte de igualdade radical, tal que uma não comprometa o horizonte expressivo da outra, mas, pelo contrário, o enriqueça, o dignifique e o reforce, coletivamente;

11.
Como o modelo de produção capitalista – e o da modernidade – não desenvolve a técnica e a combinação do processo social senão destruindo ao mesmo tempo as fontes das quais emana toda riqueza – o trabalhador, a biodiversidade, a terra -, o eco-socialismo deve não apenas ser crítico desse modelo de produção, mas antes de tudo esforçar-se para superá-lo;

12.
A crise atual não é atual, é desde sempre, e tem a ver com o movimento linear, progressivo e antropocêntrico das grandes civilizações humanas, razão pela qual devemos nos esforçar para frear o trem da história humana, substituindo-o pelo o que tem de emergente, como sonho coletivo, na expressividade cotidiana da luta por melhores condições de vida dos movimentos sociais existentes em todos os lugares do mundo;

13.
É indispensável que nos esforcemos para agir em rede, de tal sorte que o melhor de nossos esforços individuais e coletivos não apenas convirjam para a cooperação, mas igualmente procurem traduzir, na prática, uma militância comum entre os mais diversos movimentos sociais. Precisamos de um horizonte comum de objetivos entrelaçados, como o direito inalienável de todos os povos à soberania alimentar, assim como o acesso à água potável, à moradia digna, à educação revolucionária, sempre respeitando e ao mesmo dilatando a interação entre as três ecologias, a social, a ambiental e a mental;

14.
Nestes momentos em que a especulação financeira abriu as carnes do capitalismo, as organizações da esquerda, de todas as suas sensibilidades e correntes, deveriam converter-se em redes globais de denúncia e seus militantes e filiados nos grãos de areia que fossem mostrando a todos os que se está a passar, que ensinassem aos cidadãos o que os bancos fizeram com o seu dinheiro, o apoio que os bancos centrais e os governos prestaram aos especuladores multimilionários que provocaram a crise e, por fim, que lhe oferecessem as medidas alternativas que é preciso tomar sem demora para evitar que tudo se vá ruindo pouco a pouco;

15.
Agir em rede através da formação de trans-conexões entre movimentos sociais como o MST, a Via Campesina, os movimentos femininos, aqueles igualmente que colaborem para despadronizar o modelo patriarcal-heterossexual de nossas sociedades; os movimentos indígenas, afro-brasileiros, os Movimentos dos sem Mídia, o Movimento dos Sem Teto, os diversos movimentos de proteção aos animais, Greenpeace, enfim, através da trans-conexão dos mais diversos movimentos nacionais e internacionais, a fim de transformá-los em força motriz para alcançarmos os objetivos comuns-ecológicos do viver, que são aqueles que não comprometam a interação promissora entre a ecologia ambiental, a social e a mental;

16.
Trabalhar em rede para desglobalizar o mundo, isto é, para a constituição de uma civilização planetária em que a simples possibilidade de existência de qualquer forma de multinacional, de oligopólio, de monopólio,seja um escândalo de lesa-vida da e na Terra;

17.
Reforçar a necessidade de colaboração Sul-Sul, através da criação comum, entre o sul pobre do planeta, de sistemas financeiros que tenham a cooperação, e não o lucro, como referência;


Como parte dessa colaboração Sul-Sul, propõe-se:

1. O abandono das instituições criadas após a Segunda Grande Guerra Mundial, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio, dentre outras;
2. A criação do Banco do Sul, que tenha como princípio a cooperação, e não o lucro;
3. De um sistema de comunicação que atenda as necessidades informativas, educacionais, culturais e estratégicas do sul pobre do planeta;
4. Criação de um sistema jurídico comum que proíba explicitamente a presença de bases militares americanas – ou de qualquer outro país – em qualquer país que esteja em diálogo cooperativo Sul-Sul, trabalhando para que essa jurisprudência seja planetária;
5. Utilização de energias renováveis, como a solar e a eólica, num sistema de parceria trans-sul, sempre com abertura para o diálogo, de igual para igual, com os países centrais da modernidade ocidental;
6. Procurar, com participação popular, sair do modelo extrativista, de exportação de matéria prima,e desenvolvimentista, que tem marcado a história da periferia do sistmema, por ser um modelo depredador do meio ambiente e por ser especialmente nefasto para as populações autóctones, como as civilizações e comunidades indígenas.

QUANTO AO CAMPO DO TRABALHO E DA PARTICIPAÇÃO POPULAR

A divisão social do trabalho é o maior obstáculo para a constituição de uma sociedade nova, eco-socialista, porque ela, a divisão social do trabalho, é a referência norteadora para uma série indefinida de outras divisões, coma a do saber, a cultural, a geográfica, a de gênero, a étnica, a do humano e não humano, e tantas outras.

A fim de superar a sociedade da divisão social do trabalho, propomos:

1.
Emancipar o trabalho das relações de submissão: produção de mais-valia, de máximo lucro, mercantilização, divisão social do trabalho;

2.
Superação da alienação política do trabalhador através do exercício da democracia direta e do desenvolvimento de novas formas de participação, que destronem a divisão social do trabalho;

3.
Absorver a sociedade política na sociedade civil, construindo um novo nexo entre o Estado e o cidadão comum, por via da democracia direta, através de um Estado Comunal e de uma República de Conselhos Comunais

4.
Construção de uma nova hegemonia que permita superar a alienação consumista, o monopólio do saber, a estética da mercadoria, o que está implicado com a necessidade de uma revolução cultural e com a construção de uma subjetividade revolucionária;
5.
Crítica ao monopólio e da hierarquia do saber, que se materializa na expertocracia ou nas modalidades tecnocráticas diversas;

6.
Questionamento da fragmentação do saber, advindo da formação de disciplinas diversas e da especialização;

7.
Dotar o trabalho manual de dignidade teórica, reivindicando o saber popular e propugnando o diálogo entre os saberes;

8.
Assumir a democratização do saber e do pensar, com a cabeça própria: SOBERANIA E DEMOCRACIA COGNTIVAS.